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O Segundo Isaías

Segundo Isaías (Is 40-55) 

Por Gisele Canário 

 

O Livro de Isaías é uma das obras mais longas e complexas do Antigo Testamento, sendo composto por 66 capítulos escritos ao longo de vários séculos por diferentes autores e em diferentes contextos históricos. Embora o livro tenha sido compilado em sua forma final no século V a.C., os capítulos e versículos foram escritos em diferentes momentos da história de Israel, desde o século VIII a.C. até o período pós-exílico. 

Os três livretes que compõem o livro de Isaías são amplamente reconhecidos pelos estudiosos bíblicos como as seguintes seções: 

Primeiro Livrete (Isaías 1-39): Este livrete contém uma série de discursos e oráculos que foram escritos durante o período do reinado de Ezequias, no século VIII a.C. Este período foi marcado por ameaças estrangeiras, especialmente pelos assírios, que dominavam grande parte do Oriente Médio na época. O conteúdo deste livrete é focado principalmente em advertências sobre o julgamento e a punição de Deus por causa da desobediência e corrupção do povo de Israel. 

Segundo Livrete (Isaías 40-55): Este livrete é considerado a obra de um “Segundo Isaías”, que viveu no exílio babilônico durante o século VI a.C. Este período foi marcado pela opressão e sofrimento do povo de Israel nas mãos dos babilônios. O conteúdo deste livrete é focado na mensagem de consolo e esperança de Deus para o seu povo, com ênfase na libertação e restauração de Israel. 

Terceiro Livrete (Isaías 56-66): Este livrete é considerado a obra de um “Terceiro Isaías”, que viveu durante o período pós-exílico, após o retorno do povo de Israel do exílio babilônico. Este período foi marcado por desafios e dificuldades, incluindo a reconstrução do templo e a restauração da identidade nacional. O conteúdo deste livrete é focado em questões de justiça social e religiosa, bem como em advertências sobre a punição de Deus por causa da desobediência do povo. 

Embora os três livretes do Livro de Isaías tenham sido escritos em diferentes contextos históricos, eles compartilham uma preocupação comum com a opressão e o sofrimento do povo de Deus. Cada livrete oferece uma resposta única a essas preocupações, desde o julgamento e a punição de Deus até a esperança e a restauração por meio do poder de Deus. Juntos, eles formam um retrato complexo e multifacetado da relação de Deus com seu povo ao longo dos séculos. 

O servo sofredor 

Bernhard Duhm (1847-1928) foi um erudito bíblico alemão que é mais conhecido por seu trabalho em comentários bíblicos, incluindo um comentário abrangente do Livro de Isaías, publicado em 1892. Ele é considerado um dos principais representantes da escola de crítica literária alemã, que se concentrou na análise dos textos bíblicos como obras literárias, em vez de simplesmente aceitá-los como revelações divinas. 

Duhm foi professor de Teologia em várias universidades alemãs, incluindo a Universidade de Basel e a Universidade de Heidelberg. Além de seu trabalho em comentários bíblicos, ele também escreveu extensivamente sobre a história da religião antiga e a filosofia da religião. 

Embora sua abordagem crítica tenha sido questionada por alguns círculos religiosos conservadores, o trabalho de Duhm teve um impacto significativo no estudo acadêmico da Bíblia e continua a ser valorizado por sua erudição e rigor crítico. 

Bernhard Duhm identificou os quatro cânticos em Isaías 40-55, que apresentam o personagem do “Servo do Senhor”. Esses cânticos são conhecidos como “Cânticos do Servo Sofredor” e são considerados algumas das passagens mais significativas e enigmáticas do Antigo Testamento. 

O “Servo do Senhor” é uma figura misteriosa que é descrita como um servo fiel e obediente de Deus, escolhido para realizar uma missão importante, que inclui a redenção e a salvação do povo de Deus. A interpretação exata da identidade do Servo tem sido objeto de debate e controvérsia entre os estudiosos bíblicos ao longo dos anos. 

Alguns estudiosos identificam o Servo como uma figura histórica ou profética específica, como o profeta Isaías, Jeremias ou mesmo o próprio Jesus Cristo. Outros argumentam que o Servo representa o povo de Israel como um todo, enquanto outros ainda veem o Servo como um arquétipo simbólico que representa a justiça, a fidelidade e a obediência a Deus. 

Independentemente da interpretação, os Cânticos do Servo Sofredor são altamente valorizados por sua beleza literária e profundidade teológica. Eles são amplamente citados e referenciados no Novo Testamento e continuam a inspirar e desafiar os leitores até os dias de hoje. 

A ideia do “Servo Sofredor” em Isaías é um dos temas mais significativos e complexos do livro. Em geral, os estudiosos concordam que o “Servo” é um personagem misterioso que é descrito como um servo fiel e obediente de Deus, escolhido para realizar uma missão importante, que inclui a redenção e a salvação do povo de Deus. 

Ao longo dos quatro cânticos do Servo Sofredor em Isaías (42.1-7; 49.1-9; 50.4-9; 52.13-53.12), o “Servo” é apresentado como alguém que sofre por causa de sua fidelidade a Deus e por causa da desobediência e infidelidade do povo de Deus. Em vez de ser exaltado e honrado por seu serviço, o “Servo” é maltratado, oprimido e humilhado pelos homens. No entanto, ele permanece fiel e confiante em Deus, sabendo que sua missão é de importância vital para a redenção do povo de Deus. 

A interpretação exata da identidade do “Servo” tem sido objeto de debate e controvérsia entre os estudiosos bíblicos ao longo dos anos. Alguns argumentam que o “Servo” representa uma figura histórica ou profética específica, como o profeta Isaías, Jeremias ou até mesmo o próprio Jesus Cristo. Outros veem o “Servo” como um símbolo coletivo de fidelidade e obediência a Deus, que se aplica a todo o povo de Deus. 

Independentemente da interpretação, a ideia do “Servo Sofredor” em Isaías oferece uma visão profunda e provocativa sobre o sofrimento, a fidelidade e a redenção. O “Servo” é uma figura que, apesar do sofrimento, permanece fiel a Deus e à sua missão de redenção. Isso pode servir como um modelo inspirador e desafiador para os crentes hoje em dia, que enfrentam desafios e sofrimentos em suas próprias vidas.  

Contexto histórico de Isaías 40-55 

Isaías 40-55 é um livreto dentro do Livro de Isaías que contém uma série de profecias e poemas atribuídos a um autor que é comumente chamado de “Segundo Isaías”. O contexto histórico desses capítulos está relacionado ao exílio babilônico, que ocorreu entre 586 a.C. e 539 a.C. 

O povo de Judá foi conquistado pelos babilônios em 586 a.C. e muitos dos líderes e cidadãos de Judá foram exilados para a Babilônia. Durante este tempo, eles foram forçados a se adaptar a uma nova cultura e religião, e experimentaram grande sofrimento e desespero. 

 

Os capítulos de Isaías 40-55 foram escritos durante este período de exílio, provavelmente durante a segunda metade do século VI a.C. O autor ou autores destes capítulos procuraram consolar e encorajar o povo de Judá em sua situação difícil, oferecendo-lhes esperança de libertação e restauração. Eles também procuraram explicar a situação do exílio em termos teológicos, afirmando que o exílio era um castigo divino pelo pecado e infidelidade do povo de Judá, mas também uma oportunidade para renovação e reconciliação com Deus. 

Os capítulos de Isaías 40-55 são conhecidos por seu foco na figura do “Servo do Senhor”, um personagem misterioso que é descrito como um servo sofredor que é chamado por Deus para realizar uma missão importante. Muitos estudiosos veem o “Servo do Senhor” como uma figura messiânica, ou um tipo de Cristo, que viria para libertar o povo de Deus do cativeiro e restaurar a ordem divina na terra. O uso do “Servo do Senhor” como um tema central nestes capítulos é uma expressão da esperança e confiança do autor na fidelidade de Deus em cumprir suas promessas de libertação e restauração para seu povo. 

As deportações babilônicas 

As deportações babilônicas descritas no contexto histórico de Isaías 40-55 deram origem a diferentes grupos sociais que enfrentaram situações distintas no exílio. 

Na primeira deportação, em 597 a.C., foram levados para a Babilônia o rei, a nobreza, os sacerdotes e os profetas oficiais, incluindo Ezequiel. Esse grupo inicialmente viveu em semiliberdade e alguns conseguiram altos cargos na administração persa. Em Jerusalém, Sedecias foi imposto como o novo rei. A maioria da população permaneceu na cidade e no interior de Judá. 

Já na segunda deportação, em 587 a.C., foram levadas para a Babilônia as pessoas que trabalhavam no templo, incluindo cantores, artesãos, pequenos comerciantes, agricultores e viticultores. Esse grupo foi tratado como escravo na Babilônia. Na Judá, permaneceu a maioria da população sob a liderança de Jeremias e Godolias. 

Na terceira deportação, em 582 a.C., foram levadas pessoas ligadas a Godolias e Jeremias. A situação desses grupos no exílio não é claramente descrita, mas é possível que tenham enfrentado desafios semelhantes aos de outros grupos deportados. 

 

Referências 

PEETZ, Melanie. O Israel Bíblico. Paulinas, São Paulo, 2022.  

SKA, Jean- Louis. Antigo Testamento. Vozes, Rio de Janeiro, 2018.  

 

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