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Alegrai-vos no Senhor [Terceiro Domingo do Advento] Tipologia textual

Por: Juliana Mara Matos
Licenciada em Letras

TERCEIRO DOMINGO 

– Análise textual – 

 

Atenção: O texto a seguir propõe pistas ou chaves de leitura sob alguns aspectos linguísticos, ou seja, aspectos relacionados à língua portuguesa, seu uso e significado.  

É um convite à uma leitura atenta e dedicada dos textos litúrgicos, com o intuito de auxiliar o atingimento de um pleno entendimento daquilo que se celebra. 

 

 

Antífona de Entrada 

Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo, alegrai-vos! O Senhor está perto (Fl 4,4s). 

 

Análise: Poderíamos reconstruir, para fins de significado, a frase, da seguinte maneira. Alegrai-vos, sempre e de novo, alegrai-vos no Senhor. O advérbio de tempo – sempre – e a locução adverbial de modo – de novo – informar como deve ser essa alegria: sempre é continuamente, e, de novo, é de maneira contínua. É um pleonasmo, alegoria linguística para indicar que o alegrar-vos deve ser constante. 

No Senhor – Para essa contração, em + o, o significado é junto do Senhor. Uma vez que Ele está perto. Conforme última parte da antífona, a alegria será continua no Senhor. 

 

Oração do dia 

Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o Natal do Senhor, dai chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. 

 

Análise: A oração da coleta traz o pedido de chegarmos as alegrias da salvação. Mantém a ideia de constância introduzida na antífona: celebrar sempre as alegrias de modo intenso, na solene liturgia.  

Em apenas dois textos já somos capazes de notar o bastante frequente uso do termo alegria (e sinônimos) nessa liturgia. 

 

Leitura – Isaías 35, 1-6.10 Leitura do livro do profeta Isaías 

35 1O deserto e a terra árida regozijar-se-ão. A estepe vai alegrar-se e florir. Como o lírio 2ela florirá, exultará de júbilo e gritará de alegria. A glória do Líbano lhe será dada, o esplendor do Carmelo e de Saron; será vista a glória do Senhor e a magnificência do nosso Deus. 3Fortificai as mãos desfalecidas, robustecei os joelhos vacilantes. 4Dizei àqueles que têm o coração perturbado: “Tomai ânimo, não temais! Eis o vosso Deus! Ele vem executar a vingança. Eis que chega a retribuição de Deus: ele mesmo vem salvar-vos”. 5Então se abrirão os olhos do cego. E se desimpedirão os ouvidos dos surdos; 6então o coxo saltará como um cervo, e a língua do mudo dará gritos alegres. Porque águas jorrarão no deserto e torrentes, na estepe. 10por ali voltarão aqueles que o Senhor tiver libertado. Eles chegarão a Sião com cânticos de triunfo, e uma alegria eterna coroará sua cabeça; a alegria e o gozo possuí-los-ão; a tristeza e os queixumes fugirão. 

Palavra do Senhor. 

 

Análise: Vamos começar analisando algumas palavras:  

  1. Regozijar-se-ão – regozijar é alegrar-se 
  2. Estepe – região plana, árida e calcária, com pouca vegetação 
  3. Exultar – experimentar e exprimir grande alegria 
  4. Esplendor – o que é grandioso, luxuoso 
  5. Magnificências – Grandiosidades, esplendores 
  6. Desfalecidas – sem forças físicas, que não tem vigor 
  7. Robustecer – fortalecer 
  8. Perturbado – desnorteado, sem rumo 
  9. Retribuição – dar algo em troca, recompensar 
  10.  Desimpedir – remover o que obstrui, desobstruir 
  11.  Triunfo – Vitória, êxito, grande satisfação, festa 
  12.  Queixumes – Queixas, lamentações 

Esse texto pode ser dividido em três partes, conforme sentido:  

Parte 1 – Versículos 1 – 2: 

Destaque para o pleonasmo (figura de linguagem de repetição da significação de um termo): regozijar-se-ão, alegrar-se, exultará de júbilo, alegria. 

Ainda que palavras diferentes, inseridas nesse contexto, todas nos remetem ao significado “alegria”. Alegrias tais que acontecerão pela glória do Senhor e sua magnificência. 

 

Parte 2 – Versículos 3 – 4: 

Aqui o texto instrui, dá orientações, faz pedidos, com verbos no imperativo: Fortificai, robustecei, dizei, tomai, não temais. 

Tais feitos só poderão se realizar por um motivo: Pois Deus vem. Ele vem salvar. 

 

Parte 3 – Versículos 5 – 6.10: 

Assim que ele vier, o caminho preparado será trilhado. Segue-se uma metáfora: “uma alegria eterna coroará sua cabeça”. Coroa é um objeto. Alegria não. É um estado. A alegria eterna pertencerá aqueles para quem Ele vem. 

A conclusão retoma a ideia construída na primeira parte: Alegrar-se. 

 

 

Salmo Responsorial – 145/146 

Vinde, Senhor, para salvar o vosso povo!  

O Senhor é fiel para sempre,
faz justiça aos que são oprimidos;
ele dá alimento aos famintos,
é o Senhor quem liberta os cativos.  

O Senhor abre os olhos aos cegos,
o Senhor faz erguer-se o caído,

o Senhor ama aquele que é justo.
É o Senhor quem protege o estrangeiro. 

Ele ampara a viúva e o órfão,
mas confunde os caminhos dos maus.
O Senhor reinará para sempre!
Ó Sião, o teu Deus reinará.  

Análise: Conforme a divisão (para fins de análise) que fizemos no texto da segunda leitura, vamos fazer uma analogia do Salmo com a segunda parte. Lá, os verbos no imperativo propõe algumas ações. 

Aqui, percebemos que é o Senhor, ao vir par salvar o povo, que torna possível tais ações. Nas estrofes do Salmo é sempre o Senhor quem faz realizarem-se as ações.  

 

Leitura – Tiago 5,7-10 Leitura da carta de são Tiago 

Irmãos, 5 7tende, pois, paciência, meus irmãos, até a vinda do Senhor. Vede o lavrador: ele aguarda o precioso fruto da terra e tem paciência até receber a chuva do outono e a da primavera.8Tende também vós paciência e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. 9Não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está à porta. 10Tomai, irmãos, por modelo de paciência e de coragem os profetas, que falaram em nome do Senhor. 

Palavra do Senhor. 

 

Análise: Sugiro começarmos aqui destacando os verbos no imperativo: 

Tende, vede, tende, fortalecei, não vos queixeis, tomai. 

 

Observemos que, para cada verbo desses há uma orientação. Vamos destacar cada uma: 

1 – Tende paciência 

2 – Vede o lavrador – novamente pode-se interpretar como “Tende paciência”, pois o texto explica: Vede o lavrador, ele aguarda […] e tem paciência. 

3 – Tende paciência 

4 – Fortalecei os vossos corações 

5 – Não vos queixeis 

6 – Não sejais jugados 

7 – Tomai os profetas como modelo de paciência, ou seja, mais uma vez, “Tende paciência” 

 

Por quatro vezes o texto pede para ter paciência. Mas, não é uma paciência qualquer. 

É paciência até a vinda do Senhor, como a do lavrador que tem paciência até  receber as chuvas. E enquanto espera não fica inerte, precisa zelar pela plantação; 

É ter paciência e fortalecer os corações; 

É ter paciência e não se queixar para não ser julgado; 

É ter paciência como os profetas. 

 

Frequentemente diz-se que Advento é tempo de esperar. Entretanto, ter paciência, conforme ilustra-nos o texto, é saber esperar. Logo, não é qualquer espera, é uma espera consciente e as circunstâncias pedem que seja uma espera ativa.  

Em relação a primeira e segunda leituras, muito pertinente nos é o texto do nº 164, da exortação apostólica do Santo Papa Francisco, Gaudete Et Exultate: 

 

O caminho da santidade é uma fonte de paz e alegria que o Espírito nos dá, mas, ao mesmo tempo, exige que estejamos com «as lâmpadas acesas» (cf. Lc 12, 35) e permaneçamos vigilantes: «afastai-vos de toda a espécie de mal» (1 Ts 5, 22); «vigiai» (Mt24, 42; cf. Mc 13, 35); não adormeçamos (cf. 1 Ts 5, 6). Pois, quem não se dá conta de cometer faltas graves contra a Lei de Deus, pode deixar-se cair numa espécie de entorpecimento ou sonolência. Como não encontra nada de grave a censurar-se, não adverte aquela tibieza que pouco a pouco se vai apoderando da sua vida espiritual e acaba por ficar corroído e corrompido. (PAPA FRANCISCO. Gaudete et Exultate. Nº164, p.54.)

 

É isso: Ter paciência, saber esperar, manter as lâmpadas acesas, permanecer vigilantes, vigiar, não adormecer.  

 

Evangelho – Mateus 11, 2-11 

Aleluia, aleluia, aleluia. 

O Espírito do Senhor sobre mim fez a sua unção, enviou-me aos empobrecidos a fazer feliz proclamação! (Is 61,1). 

 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus. 

Naquele tempo, 11 2Tendo João, em sua prisão, ouvido falar das obras de Cristo, mandou-lhe dizer pelos seus discípulos: 3″Sois vós aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?” 4Respondeu-lhes Jesus: “Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: 5os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres. 6Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda!” 7Tendo eles partido, disse Jesus à multidão a respeito de João: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas luxuosas? Mas os que estão revestidos de tais roupas vivem nos palácios dos reis. 9Então por que fostes para lá? Para ver um profeta? Sim, digo-vos eu, mais que um profeta. 10É dele que está escrito: ‘Eis que eu envio meu mensageiro diante de ti para te preparar o caminho’. 11Em verdade vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele”. 

Palavra da Salvação. 

 

Análise: Recordando a primeira leitura: “5Então se abrirão os olhos do cego. E se desimpedirão os ouvidos dos surdos; 6então o coxo saltará como um cervo, e a língua do mudo dará gritos alegres”, porque Ele vem para salvar, a promessa se cumpre e nos certificamos disso no versículo 5 desse Evangelho: “5os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam”. 

Sobre João: “um caniço agitado pelo vento” não está agindo com consciência. Está se deixando levar. João é o mensageiro e age como tal: Prepara o caminho. Age previamente em prol de acontecimento posterior. 

Existe a necessidade do colocar-se em ação. E, ainda, com apoio das palavras do Santo Padre: 

 

Somos livres, com a liberdade de Jesus, mas Ele chama-nos a examinar o que há dentro de nós – desejos, angústias, temores, expectativas – e o que acontece fora de nós – os «sinais dos tempos» –, para reconhecer os caminhos da liberdade plena: «examinai tudo, guardai o que é bom» (1 Ts 5, 21). (PAPA FRANCISCO. Gaudete et Exultate. Nº168, p.55.) 

 

Examinar e reconhecer os caminhos. 

Os caminhos foram preparados para o Senhor. 

O Senhor vem. 

E nós? Nós alegramo-nos no Senhor. 

 

Sobre as Oferendas  

Possamos, ó Pai, oferecer-vos sem cessar estes dons da nossa devoção, para que, ao celebrarmos o sacramento que nos destes, se realizem em nós as maravilhas da salvação. Por Cristo, nosso Senhor. 

 

Análise: “Oferecer sem cessar” é uma ação e como tal, deve ser consciente. Sem cessar é sinônimo de “sempre”.  

Oferecei sempre, para que se realizem as maravilhas da salvação em nós e possamos alegrarmo-nos sempre, retomando a antífona de entrada. 

  

Depois da Comunhão 

Imploramos, ó Pai, vossa clemência para que estes sacramentos nos purifiquem dos pecados e nos preparem para as festas que se aproximam. Por Cristo, nosso Senhor. 

 

Análise:   Estar preparados – Essa é uma possível síntese da oração depois da comunhão. 

Mas, para estarmos preparados, conforme pedimos, precisamos ser purificados dos pecados.  E tais feitos só se realizam pelos sacramentos que celebramos. 

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