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A Música Litúrgica Católica no tempo da Quaresma na realidade brasileira.

A MÚSICA LITÚRGICA CATÓLICA NO TEMPO DA QUARESMA NA REALIDADE BRASILEIRA.

 

Anderson Cata Preta de Castro
CAMINHO – Desenvolvimento de música litúrgica
andersoncatapreta@yahoo.com.br

 

 

RESUMO

O presente artigo proporciona ao leitor informações sobre a realidade da música para o culto católico celebrado no Brasil, no período quaresmal. Observando as características específicas instruídas pela instituição da Igreja Católica no Brasil, em comunhão com a Igreja universal, trata-se de uma provocação a olhar para a realidade e verificar que a falta de conhecimento, impossibilita a exploração e aproveitamento consciente e concreto da proposta da Quaresma. Sugere reflexões e fundamenta apontamentos que podem ser aderidos nas diversas realidades brasileiras, no intuito de valorizar o ciclo litúrgico, a valorização da Páscoa, a cultura e a realidade brasileira.

Palavras chave: quaresma, música litúrgica, liturgia.

 

  1. INTRODUÇÃO

Esta reflexão, deseja apresentar possibilidades, a fim de que possamos dar passos concretos na compreensão da celebração do tempo quaresmal, no tocante a música litúrgica. Proponho oito passos e convido a você leitor (a), a caminhar comigo.

Ao abordar conceitos e apresentar reflexões de teólogos, liturgistas, do magistério da Igreja e da Tradição, trago um olhar sobre a realidade da música litúrgica no Brasil, neste período da Quaresma. Em muitos locais, existe falta de diálogo que gera conflitos e o não entendimento do que se celebra. Isso compromete a participação consciente, ativa e frutuosa[1], que devemos buscar e proporcionar. A falta de diálogo se dá pela imposição do gosto pessoal dos ministros ordenados ou de um grupo específico que se assemelha a determinada característica musical. Logo, imposições sem critérios e argumentos. Outro empecilho para o diálogo é a falta do conhecimento do que se está celebrando. Pois tanto o clero[2] quantos os leigos[3], sofrem de uma carência formativa[4]. Formação que se encontra em estado desolador, uma vez que formações com profundidade e continuidade são poucas no Brasil, e muitas delas apenas as vésperas do início de tempos litúrgicos, sendo totalmente contrárias a uma organização que possibilite um desenvolvimento adequado[5].

Mais um fator que aparece com grande força em nossas realidades é o surgimento avassalador de compositores em redes sociais, canais e sites na internet, alimentando cada vez mais um consumismo em massa, que sufoca a expressão de sua realidade[6]. Cada um com a argumentação de um rótulo com dizeres de música litúrgica, música para o tempo da Quaresma, etc. Claro que temos excelentes composições, porém, para distinguir e avaliar o que promove a mistagogia, será preciso atentar a critérios importantes. Tais critérios quero trazer para nossa reflexão, através dos oito passos neste artigo, para podermos dar passos firmes em uma melhor compressão para o nosso repertório litúrgico.

 

  1. A REALIDADE

Introduzidos em nossa problemática de propor um percurso consciente para alcançar uma boa vivência em um dos tempos litúrgicos composto por vários elementos, e antes de dar o primeiro passo reflexivo, ofereço uma leitura da realidade. Situações, divergências e conflitos que pude contemplar nos mais de vinte anos de atuação pastoral e em diversas realidades, assim como a escuta de vários depoimentos em distintas realidades brasileiras.

É fato que, quando falamos de Brasil, as realidades são inúmeras. Porém, algumas perspectivas, desafios e problemas são muito semelhantes, assim como a forma de ver a música litúrgica. Para o tempo quaresmal não é diferente. Basicamente, encontramos a existência de três grupos, que irei apresentar a seguir.

 

2.1 A VISÃO PRAGMATICA

As visões pragmáticas podem ser vistas em várias formas, dependendo da realidade e do que o indivíduo deseja defender.

Uma primeira visão pragmática é a daqueles que defendem o uso de um material pré-estipulado. Tal material é elaborado por profissionais da área de música e liturgia, todavia, a questão é a clareza com a qual este trabalho chega enquanto informação aos que estão ligados diretamente com o serviço pastoral. Primeiro ponto que precisamos resolver: o material é de uma equipe, ou da própria conferência episcopal local? E, para responder tal questão, devemos estar cientes da existência, do papel e importância da autoridade episcopal[7], que deve ser vista como referência. Não sendo legitimado de forma documentada, mas sendo um material norteador e/ou sugestivo, já temos uma abertura a mais possibilidades. Logo, o discurso pragmático não se consolida. O problema que aqui me aparece é a leitura de e o diálogo com as diversas realidades: seria possível um material que atendesse todas as realidades brasileiras? Certamente que não. Logo, a resposta de alguém apropriado deste pragmatismo, é de que é um subsídio. Outro conflito ocorre, pois o termo significa uma ajuda pecuniária e muitas vezes vemos um material comercializado, e que não está disponível a todos, ou chega em mãos aos interessados, poucas semanas antes de iniciar o tempo litúrgico. Tal material, deve ser visto como uma sugestão, e nada mais. Precisa ser severamente avaliado com o olhar da realidade, e jamais poderá chegar às mãos dos músicos como imposição ou por que o ministro ordenado pediu. O diálogo precisa ser revisto.

Uma segunda forma de visão pragmática, é a daqueles que classificam o uso de poucos instrumentos, porém, argumentos sem muito fundamento. Apontando parte de citações de alguns documentos da igreja, em especial a Instrução Geral do Missal Romano e a constituição sobre a liturgia: Sacrossactum Concilium.[8] Apenas esquecem que o parágrafo não termina na primeira frase, e assim tiram o texto do contexto, e, ainda mais, se esquecem do diálogo com os documentos em um todo, assim como, também, as orientações da autoridade local. Basicamente, defendem a exclusão dos instrumentos de percussão. Ou seja, apenas uma forma mecânica e sem entendimento da celebração que outrora era cristalizada e não promovia uma participação[9]. Tal assunto, tratarei com mais detalhes no decorrer deste artigo.

A crítica, a princípio, é dura, mas darei fundamentação com apresentação de diversos conceitos no decorrer deste artigo.

 

2.2 A RESISTÊNCIA DO GOSTO PESSOAL

O segundo grupo é o que se baseia no pré-conceito ao material sugerido. Critica a forma musical e não extrai pontos importantes que precisam ser refletidos. Diz usar cantos quaresmais como se tais cantos fossem textos oficiais e imutáveis, o que na verdade são regras criadas e ensinadas apenas com a visão humana.[10]

Frequentemente influenciados pela pastoral ou movimento que participam, pelo que acreditam e classificam como espiritualidade e pelo que acompanham nas redes sociais e televisões. Confundem música religiosa com música litúrgica. Isso ocorre, muitas vezes, pelo desconhecimento da proposta do Concílio Vaticano II, que não é um evento do passado e sim um convite juntamente ao colégio episcopal e magistério papal: o diálogo com a realidade atual[11]. Então, resta ao indivíduo se direcionar pelo tenebroso caminho do gosto pessoal, que não possui referência e está pautado em seguir diferentemente do que chega como proposta. O resultado disso é uma dissonância estapafúrdia.

 

2.3 AS EXPERIÊNCIAS SEM CRITÉRIO

Devido à falta de formação adequada para o serviço litúrgico e, quanto menos, uma iniciação ao ministério do culto na sustentação do canto da assembleia, é comum encontrar pessoas exercendo a função sem critério algum. É um grupo que tem a tendência facilmente de seguir os passos do grupo que citei anteriormente. Não tendo critério, acaba realizando o que lhe é agradável enquanto gosto pessoal.

Muito facilmente se constata que:

[…] não são poucos os animadores ou animadoras de canto que, por falta de formação litúrgica, desconhecem os critérios de escolha dos cantos para uma celebração: a funcionalidade de cada canto com relação aos vários momentos da celebração; a hierarquia dos cantos[12]: uns elementares, e por isso mesmo mais importantes e necessários; outros acessórios e, conforme as oportunidades, dispensáveis; a adequação dos cantos a cada tempo litúrgico, a cada festa, a cada tipo de celebração e a cada tipo de assembleia. (CONFERÊNCIA EPISCOPAL DOS BISPOS DO BRASIL, 1999, §26)

 

2.4 DIALOGAR OU DIVIDIR

Apresentados alguns desafios, dispõe-se uma reflexão para dar passos que, ao menos, diminuam tamanhos impactos causados por tais condutas. Encontramos frequentemente nos discursos do Papa Francisco a importância de buscar o diálogo, como palavra que devemos sempre repetir e testemunhar[13] como meio de promoção para as relações. É um grande desafio para as nossas realidades que constantemente se agrupam com características que foram abordadas nos tópicos anteriores. Ao olhar a realidade, percebemos que:

Estamos vivendo num tempo em que o diálogo se torna cada vez mais necessário na construção da paz e para a convivência fraterna. O diálogo se torna tarefa irrenunciável num contexto sociocultural marcado, de um lado, por tanta agressividade e intolerância, de outro, pela indiferença egoísta. Precisamos dialogar mais no dia a dia e nos vários âmbitos da vida social. Contudo, é preciso aprofundar a compreensão que temos sobre o diálogo para poder concretizá-lo. A capacidade de dialogar serve de termômetro para avaliar a vivência da fraternidade e do respeito ao outro. A recusa ao diálogo pode expressar fechamento sobre si e a recusa de escutar. (VATICAN NEWS, 2021)

O que parece ser tão claro para o ambiente religioso, nem sempre ocorre. Caminha-se primeiro pela perspectiva positiva de evidenciar a prática que agrega: diálogo. Porém, ampliar a reflexão de forma pedagógica, necessita da apresentação do oposto ao diálogo: divisão. Tal prática que, para a própria religião, é abominada. Para elucidar isso, façamos uma breve observação em alguns textos bíblicos. Obviamente que, conflitos em atividades pastorais, não são particularidade do século XXI. Paulo, necessita escrever logo no início da carta a comunidade de Corinto que, diante aos acontecimentos, precisam rever a conduta comunitária que se baseia em criação de grupos por assemelhação ou gosto.[14] Aliás, a comunidade de Corinto é uma amostra de existência de conflitos sobre divisão[15] Para o apóstolo Paulo, tal conduta de promover divisões pertence a alguém que esteja sofrendo com a sua própria consciência, o que podemos considerar alguém que esteja perturbado.[16] Não obstante, é necessário o olhar caridoso e cuidadoso entre si.[17]

Embora, com as cartas paulinas, já encontremos fundamentação para elucidar o que desejamos, não se pode deixar de trazer os textos dos evangelhos. Tanto no Evangelho atribuído a Mateus[18], quanto no texto do Evangelho escrito pelo companheiro de Paulo, Lucas[19], Jesus diz que um reino dividido tem um fim de destruição, certamente. Dado este passo, vemos, dentro da realidade, que ambos grupos apresentam características similares: não apontam o desenvolvimento litúrgico dentro das leituras, criando uma ideia de liturgia estática.

Sobre a instrumentalização, apontam como momento de tocar de forma suave. Criando um sentido medíocre à arte musical, pois sua execução requer muito mais características do que simplesmente o fator de suavidade. Trata-se de uma linguagem musical a ser trabalhada e compreendida[20]. Isto também trataremos adiante com mais detalhes.

Logo, percebemos uma ação limitada dentro de um processo formativo no qual, por anos, se apontou o que fazer, de forma a cumprir normas estabelecidas. E, ainda, é um problema presente desde o ministro que preside a todo fiel que está presente para celebrar[21]. Há muito que se caminhar no entendimento do que celebramos. Sendo salutar dizer que não desejamos esgotar o assunto, mas iniciar os leitores a darem passos mais profundos, saindo desta inércia e dando passos para melhor celebrar.

Existe uma necessidade de abrir os ouvidos e os olhos para a Igreja como todo. Urge

[…] conhecer as necessidades verdadeiras, as capacidades reais e os gostos especiais de uma assembleia. O pior que pode acontecer é achar que tudo se resolve entre quem preside e o regente ou animador do canto. E o melhor será uma prática comunitária e democrática, em que as pessoas recebem as informações e a formação necessárias em matéria de liturgia e música, trocam seus pontos de vista e com critérios e bom senso fazem seu discernimento, avaliam permanentemente sua prática e vão encontrando a feição musical e litúrgica da assembleia. E é bom estar atento para o fato de que nem sempre o que se pensa e o que se diz coincide com o que se sente e se vive. Nossa escuta tem de ser mais profunda do que simplesmente perguntar às pessoas o que elas acham, sobretudo porque há toda uma massa de silenciosos. (CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 1999, §176.

Em vista de alcançar a “[…] realidade de comunhão e participação através do canto comunitário”. (CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 1999, §354).

 

  1. O CULTO CONSCIENTE

O culto cristão deve ser consciente, unindo palavras e pensamentos.[22] O tempo da quaresma não se exclui dessa determinação. Nesse período percorremos várias semanas. Portanto, temos alguns domingos a celebrar com a reflexão quaresmal. E será necessário refletir as possibilidades que favorecem a reflexão do tempo que estamos abordando, dada a riqueza de elementos em celebrar o domingo.

Quando, então, a assembleia se reúne, especialmente no dia do Senhor, para celebrar a sua fé, traz para a celebração toda essa realidade de vida do povo, partilhada e meditada.[23] E ao “fazer memória” dos acontecimentos que passaram, vai sentir necessidade de cantos, de música, quem sabe, de coreografia e dança, que ponham em evidência tudo quanto vai sendo sinalizado por esses acontecimentos. (CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 1999, §271)

 

3.1 A IMPORTÂNCIA DE CELEBRAR O DIA DO SENHOR

Coloco como primeiro critério: o entendimento do dia do Senhor. O primeiro e o oitavo dias.[24] O primeiro da semana[25], em que fazemos memória de sua gloriosa ressurreição: a nova criação. Logo, tudo por Ele e para Ele, a glória, amém.[26] E, neste grande dia, estamos nós reunidos para ouvir a palavra de Deus e participar da Eucaristia. Dia de grande importância para nossa fé. Logo, é importante sempre lembrar da precedência do domingo sobre outras celebrações.[27] Portanto, é preciso que todos nós tenhamos, conscientemente, a primazia pela celebração dominical que, durante o ano, celebramos os mistérios da salvação.[28] Assim, concluímos que o nosso primeiro critério é o de reconhecer o grande dia do Senhor. Obra de Jesus, que é realçado nas escrituras[29] com suas atitudes e culmina na sua paixão, morte e ressurreição.[30] Tendo tudo isso por um único fim: a glorificação de Deus e santificação dos homens,[31] também no tempo da quaresma, como motivação[32] no culto.

 

3.2 O TEMPO LITÚRGICO EM NOSSO CONTEXTO

O nosso segundo critério, a ser considerado para a construção de uma boa música litúrgica na Quaresma, será o entendimento sobre o Tempo litúrgico com o nosso contexto. Com o entendimento que a Igreja católica celebra a cada domingo a obra de salvação do Esposo, temos organizadamente nestes domingos, a celebração desde a sua Encarnação até Pentecostes, tendo a sua paixão e a grande solenidade da Páscoa como centro.[33] Adentramos ao sentido da Quaresma, da forma como é: um tempo singular. Devemos dar ao próprio do tempo o que lhe convém, pois se trata da celebração dos mistérios da salvação.[34] E o caráter que exprime a Quaresma é a comemoração do Batismo e a prática da penitência.[35] Logo, sejam valorizados os elementos batismais e penitenciais. Mais adiante, iremos refletir um pouco mais sobre as possibilidades concretas de viver estes elementos. Antes, é necessário salientar que a penitência não se trata apenas de um ato individual que, logo, seria vazio. É, sobretudo, um convite à adaptação do tempo que vivemos,[36] com um caráter social vivenciar o mandamento do amor em sua plenitude.[37]

Justamente nessa orientação, que encontramos a possibilidade da proposta feita pela CNBB para vivenciarmos na Quaresma. Uma campanha que possibilite, neste período de reflexão, a possibilidade de nos encontrarmos em cada um de nós, com Deus e com o próximo: um caminhar para a Páscoa, propondo um mundo novo que passa pela transformação de um homem novo e uma mulher nova, motivados e guiados pela força do Espírito Santo.[38] O documento conciliar da Sacrossactum Concilium abre o diálogo para a realidade e, para isso, como cabe ao magistério episcopal local,[39] se observa e age, construindo a prática junto à liturgia de acordo com a realidade. Uma vez e sempre em comunhão com o Papa,[40] o Bispo tem responsabilidade e autoridade para conduzir a porção do rebanho do Senhor que lhe foi confiada.[41] Assim como a comunhão e condução da Igreja em determinadas realidades pelo colégio Episcopal[42], onde temos, por exemplo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). E nesse contexto temos a possibilidade de refletir no período da Quaresma sobre a Campanha da Fraternidade, uma vez, colocada pela Conferência Episcopal local, para reflexão profunda da relação com Deus e com o próximo, embora seja ainda muito desafiador refletir teologia e pastoral, por existirem grupos extremistas que defendem só a doutrina com os que defendem apenas a pastoral, sendo mais um problema que atrapalha o diálogo. Assim, tendo conceituado as possibilidades da realidade no Brasil, podemos concluir este ponto que, se tratando da realidade, é indispensável celebrar a liturgia com diálogo à realidade que vivenciamos.

O desafio é como não congestionar as informações e, pedagogicamente, falar a mesma língua, a fim de que a assembleia tenha a possibilidade e condição melhores de celebrar. Logo, será na própria Palavra de Deus que conseguiremos avançar neste caminho. Uma vez que é sabido e comum que o diálogo com Deus acontece por meio de sua palavra e essa nos conduz na liturgia.[43]

 

  1. O TEXTO QUE NOS CONDUZ

Os cristãos não estão às cegas[44] quanto ao direcionamento. O culto católico romano está intimamente ligado ao texto bíblico e, com uma estrutura que não cabe agora esmiuçar, organiza-o e evidencia-o no todo do rito, sendo um grande louvor da criação para o que há de vir na eternidade.

 

4.1 AS LEITURAS DO TEMPO DA QUARESMA E SEU POSSÍVEL ITINERÁRIO

Entendendo que a liturgia nos comunica nas celebrações do tempo litúrgico os mistérios da salvação que estão relacionados à vida de Cristo, [45] conduzindo a vida litúrgica pela história da salvação descrita nos textos bíblicos, [46] será justamente onde é relatada a vida do Senhor no meio de nós que vamos conseguir compreender melhor o que celebramos. Então, chegamos ao terceiro conceito importante de nossa reflexão: conhecer os textos bíblicos deste tempo.

Para tal desdobramento de nossa reflexão, vamos refletir com as argumentações dos três itinerários[47] no tempo litúrgico da Quaresma, proposto pelo sacerdote Augusto Bergamini. A fundamentação do italiano se encontra nas leituras durante este tempo em cada ano, em especial o agrupamento do Terceiro ao Quinto Domingo da Quaresma. Uma vez que no primeiro domingo temos a tentação de Jesus no deserto[48] e no segundo a Transfiguração do Senhor[49], segundo os evangelhos sinóticos. Abordando o caráter de vivência da Quaresma como a conversão, a oração e o jejum[50] e para onde o tempo nos indica. E, a partir daí, um itinerário importante a ser observado.

Os dois primeiros domingos, com suas reflexões já citadas a partir dos evangelhos proclamados, precisam ser valorizados ainda mais com a possibilidade de contextualizar a realidade e não congestionar os sentidos. A penitência é uma forma de condução ao equilíbrio interno, ao olhar ao próximo, e promover a dignidade, propondo uma purificação em nós. Um convite a vida nova em Cristo que é fruto Pascal,[51] a vida nova revelada na Transfiguração, não apenas ver de modo incompreensível, mas o conhecer completamente.[52]

No ano A temos a “quaresma batismal”. Os textos que evidenciam o sentido batismal são o do encontro de Jesus com a samaritana, [53] no qual encontramos o elemento da água, que em nosso batismo foi consagrada a pedido da Igreja para Deus, que em seu Filho o Espírito Santo descesse através da oração de epiclese com a finalidade de nascermos da água[54] e do Espírito.[55] Na semana seguinte, encontraremos o texto da cura do cego de nascença,[56] em que temos o elemento da luz. O batizado é iluminado em Cristo, se converte em luz com o Senhor: o sacramento da iluminação.[57] E por fim o texto da ressurreição de Lázaro,[58] com várias características que podem nos aproximar à reflexão sobre a quaresma batismal,[59] sobretudo a vida em Cristo, que nos proporciona a vida nova[60]. O selo do Senhor que nos marcou[61] para o dia da redenção.[62] Portanto a conexão aos primeiros dois domingos para este itinerário quaresmal é clara: o batizado é aquele que configura a Cristo e tem a herança da vida eterna. Logo, não são duas quaresmas ou parte um e parte dois dentro do tempo litúrgico. E, com certeza, teríamos muito mais reflexões e possível aprofundamento para o ano A, uma vez que a riqueza do Batismo nos proporciona isso. Mas, gostaria de indicar a valorização do rito da benção da água e da Aspersão para estes domingos. Que contribuiria também para aprofundar ainda mais nesta característica própria da Quaresma.

Para o ano B, os textos de João estão direcionados para o mistério glorioso da cruz de Cristo. Esta ascese quaresmal é um convite muito importante para a celebração Pascal.[63] Temos Jesus expulsando os comerciantes do templo, afirmando que levantaria o templo em três dias.[64] No domingo seguinte a menção que o Filho do homem será levantado,[65] e por fim quando for levantado, atrairá todos a Ele. [66] Tal ascese, apontada nos textos destes domingos, reforça o tempo favorável para o discipulado em Cristo, que exige o primeiro passo da conversão para dar continuidade aos passos em tomar a cruz e o seguir.[67] A mudança íntima, que ao mesmo tempo, provoca mudanças externas.[68]

Interessante que esta ascese proposta no Ano B está bem conectada nos dois primeiros domingos o que, a partir da oração e da penitência que foram celebradas no primeiro domingo, deve ser uma ação contínua e permanente na vivência celebrada, como caráter próprio do tempo que celebramos. E este convite ao Calvário é para morrermos com ele, celebrando o que é rezado nas orações eucarísticas.[69]

Já no ano C, segundo Bergamini, temos uma quaresma penitencial. Um convite ao conhecimento e experiência com a misericórdia de Deus. Como consequência dos domingos que antecedem esse itinerário do terceiro ao quinto domingo, é importante perceber a penitência a que Jesus se submete[70]. Ao avançar para o itinerário, a partir do terceiro domingo, temos evidências penitenciais e de conversão, encontradas nos textos de Lucas, na parábola da figueira estéril[71] e do filho pródigo.[72] E também no texto do evangelho de João, com o fato da mulher adúltera.[73] Proposta que pode ser desenvolvida no âmbito de reconciliação com Deus e com o próximo, passando pelo sacramento da penitência, impulsionando para a vida em estado de graça. E que pode conversar com a realidade no desafio da promoção humana, da relação em sociedade e na abertura do diálogo.[74] Assim, temos uma grande possibilidade de abrir diálogo com a realidade, tendo a palavra de Deus como primazia. Ela que conduz a reflexão, e ao ouvir a sua palavra, somos conduzidos por Ele, e o reconheceremos ao partir o pão.[75] Este pão repartido que é capaz de alcançar a todos[76] e nos tornar um só corpo em seu amor.[77]

 

  1. PRÁTICA PASTORAL

Após contato com diversas realidades pastorais, percebemos uma ação comum: cenários já comentados neste artigo, e desafios que precisam ser superados com o estudo e reflexão sobre a música litúrgica. A prática pastoral é resultado do investimento de tempo, reflexão e formação oferecida e se vê, ainda, em passos modestos.

 

5.1 DIMENSÃO PASTORAL

Como apontei no início desta reflexão, esgotar o assunto não é a intenção. Porém, com o que já apontamos, teremos muito trabalho e diálogo nas pastorais. Todavia, o caráter e a dimensão pastoral que a Quaresma proporciona, não poderiam ser deixados de lado. Seguiremos com a reflexão do religioso Bergamini para falarmos do nosso quarto passo que constitui esse caminho pedagógico. Bem comum e de conhecimento de todos, a Quaresma é este período de empenho à caridade. E isto é uma exigência dentro dos textos bíblicos[78] mencionados no item anterior. Assim como elencamos a valorização da ação litúrgica, o sacerdote italiano também salienta que a dimensão pastoral “deverá se empenhar antes de tudo na valorização plena da Quaresma litúrgica” (BERGAMINI, 1994, p. 285). Reforçando o conceito e um convite a conversão pastoral, pessoal e comunitária,[79] deve ser claro a todos nós que a liturgia é a ação mais eficaz da Igreja, expressa na Sacrossactum Concilium como ação inigualável.[80]

A realidade também proporciona eventos que ocorrem durante o período quaresmal: as práticas quaresmais são um deles, tanto como celebração[81] (via sacra, celebrações da palavra), como atitude. E, justamente neste âmbito, encontramos o convite à reflexão e a importância da Campanha da Fraternidade[82]. Um momento de empenhar-se nas iniciativas comunitárias[83]. E a cada ano temos uma proposta diferente a convite da CNBB. Então, teríamos dois cenários: o da celebração da liturgia e o da a vida pastoral. Cenários que não são desligados e estão em profunda comunhão: “[…] com a celebração dos mistérios da redenção cristã, sobretudo do mistério pascal, alimentar devidamente a piedade dos fiéis” (CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §107) e não só a piedade dos fiéis, mas também as práticas quaresmais.[84]

Temos uma chave muito importante para esse diálogo, quando oportuno. Seja após a homilia ou no canto final: cantar o hino da campanha da Fraternidade.[85] Executar o hino como protocolo seria um equívoco e uma quebra do ritmo da liturgia, comprometendo a mútua conexão dos ritos.[86] É preciso entender que é uma chave para abrir a porta da reflexão pastoral que nos é apresentada. Não forçada ou imposta, mas, dialogada. Assim, poderemos dar um passo eficaz. Caso o entendimento não seja contemplado pela comunidade e pelos músicos, é muito mais salutar valorizar nos encontros reflexivos do que congestionar a liturgia, fazendo por fazer, comprometendo a participação dos fiéis,[87] que por muitas vezes é decorrente de uma má preparação pastoral. Tal preparação pastoral com o objetivo de eficácia pastoral e aprofundada, o que deve acontecer durante a Quaresma e não somente na celebração litúrgica.

Este posicionamento pastoral poderá gerar descontentamento, porém não adianta criar um ambiente que faça os fiéis serem espectadores.[88] Ou seja, a realidade pré concílio Vaticano II, em que a descrição é de um povo passivo e apático.[89]

 

5.2 CANTAR MENOS? VALORIZAÇÃO DO SILÊNCIO E PROMOÇÃO DO CANTO DA ASSEMBLEIA.

Chegamos ao quinto passo de nossa reflexão. E falar de repertório não é fácil, pois a compreensão de quem está envolvido na música litúrgica ainda é bem limitada para este assunto, e a provocação à reflexão é bem intensa. Para darmos esse passo, precisamos quebrar pré-conceitos, dialogar com as sugestões como sugestões e não imposições e perceber os valores e indicações a que as sugestões podem nos levar, ou indicar a outras possibilidades.

É bem comum ouvir nas preparações da Quaresma a sugestão de cantar menos. Com o esdrúxulo e estrambótico argumento de que a Quaresma é um momento somente de reflexão, ignorando que o canto poder ser um auxílio importante para a reflexão. Sem contar a falta de ciência em pronunciar que é em vista da alegria Pascal. Tais argumentos estapafúrdios são alimentados pelo momento atual que vivemos, quanto à pandemia, afirmando que os cantos prologam a celebração.

A falta de conhecimento dos documentos e orientações sobre a música litúrgica é um dos fatores que promovem esses tipos de ações. E, justamente, se conhecessem tamanha riqueza e profundidade da fala do magistério episcopal, papal da tradição e da sagrada Escritura, perceberiam quão importante é valorizar o canto que é próprio do povo. Principalmente no período Quaresmal, somos convidados a sustentar o canto do povo.[90] Logo, o ordinário deveria ser valorizado como é indicado por Paulo VI no documento sobre a música sacra. Os cantos de primeiro grau[91] estão assim classificados[92] porque possuem determinada e imprescindível importância. A valorização do canto do ordinário promoverá uma experiência intersubjetiva em quatro aspectos:[93] transobjetiva, intersubjetiva, interpessoal e espiritual. E, precisamente a partir destas experiências de subjetividade pós concílio que temos considerado as características comunitárias com seus anseios e suas esperanças: “[…] para a vida litúrgica, esse processo é fundamental para interiorizar o ritual e integrá-lo na própria existência” (BOGAZ, 2014, p. 61)

Bem sabemos que, na celebração da liturgia, nós temos os cantos que acompanham o rito. E estes sempre possuem sugestões que nascem todos os anos, e a cada ano mais e mais músicas surgem. A primeira pergunta que faço é a origem do canto e a realidade em que o canto nasceu. Seria a mesma realidade que a dos que o utilizarão? E disso desenvolvem-se outros questionamentos: esta sugestão chegou até o músico por gosto pessoal, imposição ou existiu um estudo ou reflexão sobre conceitos do canto? Toda uma realidade que bem sabemos como acontece através da imposição de folhetos, de uma playlist organizada por um grupo pequeno, por composições de poucos autores com viés artístico singular, para atender um mercado, e seu produto que os conduz a uniformidade.

Enquanto a busca dos músicos for a insistência pelo consumismo, e adeptos a essa cultura de massas que está para agradar um gosto em detrimento ao conhecimento e o entendimento de celebrar, ficará difícil alcançar o diálogo, pois qualquer coisa nova serve.

Temos na proposta da CNBB para os cantos na Quaresma, elementos que precisam ser valorizados. Destaco a fonte dos textos: Liturgia das Horas, Sagrada Escritura e as Antífonas próprias, por exemplo. A utilização de poucos instrumentos, valorizando o caráter de sustentar o canto[94], e de buscar na fonte do canto gregoriano e da polifonia, a sua inspiração.[95] Todavia, não é um gênero musical da realidade de todo um país como o Brasil. Impor o uso deste seria uma ação contraditória à promoção das realidades que o Concílio Vaticano II proporcionou.[96] E, infelizmente, a forma como foram compartilhados os materiais, foi agressiva. Não por parte da CNBB ou de sua equipe de reflexão para a música litúrgica, mas dos que criam essas imposições, por diversos motivos, alguns deles já citados no decorrer deste artigo.

De inúmeras pessoas que enviaram estes materiais e sugestões (incluindo o hino), nenhuma delas sequer enviou o texto base da Campanha do ano ou alguma reflexão partindo do Concílio Vaticano II, que foi um concílio ecumênico. Incoerência? Mero descuido do desejo de impor?

Para finalizar este passo firme, o silêncio nos aparece como grande auxiliador na reflexão do período quaresmal. Aliás, fica difícil conversar num ambiente com muitos ruídos. Temos dez momentos na liturgia para valorizar o silêncio na liturgia. Sobretudo quando se proclama a palavra de Deus nas leituras e no espaço entre uma e outra leitura. “Presta atenção, Jó, e escuta: cala-te, enquanto eu falo”. (BÍBLIA, 2001, Jó 33.31) Claro que o silêncio merecia muito mais reflexão, porém acho suficiente para este passo ter em mente as palavras do teólogo Ratzinger:

“Apenas a coragem de aprender no silêncio novamente a palavra, pode salvar do excesso de palavras que leva a uma Tagarelice exatamente onde, na realidade, se traria de encontrar a Palavra – o Logos – que, como palavra de Amor crucificado e Ressuscitado, é a autorização à vida e à alegria.” (RATZINGER, 2019, p.394)

 

5.3 INSTRUMENTALIZAÇÃO E A FALTA DE COERÊNCIA

Estamos terminando nossa caminhada. O sexto passo é talvez o mais cheio de pré-conceitos; o que mais falta caridade quaresmal; o que tem mais gosto pessoal. Portanto, o passo que carrega consigo a maior incoerência, quando apenas lê fora do contexto, a instrução geral do missal romano.[97] Ao abordar esse terreno, ainda não tão claro, vamos recorrer ao texto bíblico, para nos ajudar a perceber as relações de variedades de instrumentos musicais, com motivos distintos.

O livro dos salmos é repleto de contribuições para o entendimento da instrumentalização no âmbito litúrgico. Mesmo considerando que não são os mesmos instrumentos e até a mesma musicalidade[98] contida naquela cultura e naquele período histórico, a dinâmica é uma ferramenta importante para a compreensão nos tempos atuais.

Trabalharemos o texto do Salmo[99] 81 (80)[100], para mostrar esta relação evento e expressão. Será abordada uma perspectiva pedagógica, em vista de um aprofundamento mistagógico, portanto, entendendo que comporte a simbiose dos versículos e uma percepção da atividade. O versículo primeiro aponta “ao mestre do coro para a harpa de Gat” (BÍBLIA, 2001, Salmos 81.1). Está indicando a quem serão direcionadas as orientações: mestre do coro. Quem é o mestre do coro, a não ser aquele que sustenta o canto? Temos então um indivíduo bem definido nesta relação. No versículo dois o texto indica o motivo que deverá estar em todo o decorrer da ação, mostrando ao mestre de coro, que esse em todo instante deve zelar por esta ação de louvor no culto, uma vez que do início ao fim, para o fiel, Deus é sempre louvado. [101] Logo, “[…] exultai em Deus, nossa força, aclamai ao Deus de Jacó” (BÍBLIA, 2001, Salmos 81.2). Chegamos ao terceiro versículo: “[…] entoai o canto e tocai o tímpano, a cítara melodiosa com a harpa” (BÍBLIA, 2001, Salmos 81.3). Temos uma ordem interessante para ser avaliada. Inicia com a primazia do canto e mais três instrumentos. Observemos a ordem dos instrumentos: primeiro tímpano, que é um instrumento de percussão e que favorece a sustentação do canto com o ritmo; depois vem a cítara, que é um instrumento melodioso que permite se dedilhar e de sons agudos; pôr fim a harpa, em consonância e harmonia com a cítara, que permite até mesmo uma sustentação com timbres mais graves. Até aí percebemos instrumentos suaves e com a atenção em sustentar o que primeiro foi destacado: o canto. Partimos ao versículo quatro, em que aparece um novo instrumento, porém com um adendo sobre quando o tocar: “[…] tocai a trombeta na lua nova, na lua cheia, nosso dia de festa” (BÍBLIA, 2001, Salmos 81.4). Aqui estamos diante de um versículo que requer muita atenção, pois temos vários elementos. A trombeta é um instrumento muito presente no contexto veterotestamentário, e de significância profunda, que se destaca como símbolo de alerta, preparação e convocação[102] destinado a tocar em dias muito particulares. Portanto, deve se guardar a trombeta para o uso em uma data especial. Neste versículo quarto é justamente o que se pede: tocar a trombeta em uma data específica. A data citada é a da lua nova, a considerar uma data de início de um ciclo, de um tempo novo, de um tempo especial. Perceba que a ausência de um instrumento nesta hermenêutica está em relação do acréscimo e não da reclusão. Onde os instrumentos são bem vindos e valorizados, para o que vem a seguir. Em nosso contexto litúrgico: a Páscoa. Completando essa abordagem, chegamos ao versículo cinco, que, como herdeiros e continuadores da aliança do Pai[103] com seu povo, tomamos como “[…] um preceito para Israel, um decreto do Deus de Jacó” (BÍBLIA, 2001, Salmos 80.5).

Partimos para um segundo passo dentro desse conflito, considerando o esforço de inculturação da Igreja para o acolhimento de instrumentos musicais[104]. No contexto bíblico, ficou claro os instrumentos de sustentação do canto. É preciso saber o que é um instrumento que sustenta o canto em nosso contexto tão plural, no que se refere a condições de obter um instrumento e, até mesmo, o que é possível ter de acordo com as realidades. Dentro da classificação técnica da instrumentalização, vamos encontrar os instrumentos melódicos e harmônicos. Agora precisaremos diagnosticar quais são, e consequentemente diferenciar o que é um instrumento melódico de um instrumento harmônico. Os instrumentos melódicos, tais como saxofone e violino, possuem a grandeza de enaltecer ainda mais a música. Logo, em um período de recolhimento como esse, convém não os utilizar. Tendo tateado sobre os instrumentos melódicos, passamos para o conhecimento dos instrumentos harmônicos. Quais seriam? Os mais usados em nossas realidades são o violão e o teclado. Assim como o órgão é. O acordeão é um instrumento harmônico. O contra-baixo também é um instrumento harmônico. E sabendo tecnicamente que são os instrumentos harmônicos os que sustentam o canto, esses seriam bem-vindos. A IGMR não limita o número dos instrumentos, apenas afirma que sejam utilizados os necessários para sustentar o canto. Todavia, me pergunto qual a finalidade de ter dois ou mais do mesmo instrumento harmônico, executando a mesma técnica e harmonização? Por exemplo, dois violões fazendo os mesmos acordes. Não seria também um acúmulo desnecessário? A mesma ideia de acúmulo nos provoca outra reflexão: não seria um equívoco ter um violão e um teclado fazendo a mesma coisa, sendo que apenas um já sustentaria o canto? Existe uma forma de dialogar com eles, tecnicamente como é a proposta bíblica da harpa e a cítara?

Todas essas questões levantadas acima são ignoradas por causa de uma afirmação grosseira: “tire os instrumentos de percussão”. Qual a fundamentação? Além do desconhecimento total sobre os instrumentos e técnicas de percussão? O ritmo é parte importante da música, um indicador de equilíbrio corporal, um facilitador e condutor para o interprete,[105] no ritmo que a melodia repousa,[106] base para toda arte. A verdadeira expressão da vida e, consequentemente, a música possui um caráter rítmico por excelência.[107]

Todavia, percebemos que, nessa realidade que vivenciamos, o problema além do pré-conceito e a falta de entendimento sobre música: o problema técnico de quem percute o instrumento. A falta de técnica e instrumentos específicos para promoverem o ritmo de forma adequada e que este musicista possua a consciência de apenas sustentar o canto é um processo que precisa ser trabalhado. Desconhece-se realidades que promovam esse diálogo, em vista da preguiça de optar pela exclusão do instrumento e do argumento: não pode. Se perde uma grande oportunidade de promover a caridade quaresmal e valorização do próximo. Se lhe falta técnica para executar qualquer instrumento para sustentar o canto, seja instruído ao conhecimento técnico de música. Que não caiámos no equívoco de fazer do jeito que gosto. Mas saibamos que os instrumentos musicais podem ser de grande utilidade nas celebrações sagradas.[108]

 

  1. MÚSICA NO CONTEXTO

Ao chegarmos no tempo Quaresmal, muitas vezes escutamos a opinião de tratar as canções com escalas menores naturais, melódicas e harmônicas, com o embasamento de introspecção ou algo relacionado com alguma característica quaresmal. Não desejo questionar a perspectiva das tensões dos intervalos de terça menor em relação à ideia de penitência ou introspecção e reflexão, mas abrir o horizonte e perceber, juntamente ao sentido litúrgico da glorificação a Deus e a santificação dos homens, a possibilidade de utilizar uma variedade maior de escalas, intervalos e encadeamentos harmônicos que colaborem com os textos próprios para a Quaresma. Considerando a interferência e ação musical nos indivíduos, sendo um “[…] absurdo crer que os próprios movimentos ou ações ou operações ou que melhor nome possam ter não escapam à alma quando sente” (AGOSTINHO, 2021, p.231). Este é o nosso sétimo passo.

 

6.1 ESCALAS MUSICAIS A FAVOR DO TEXTO

Para expor esta provocação de ampliar o olhar quanto as formas melódicas e a utilização dos recursos do campo harmônico, teremos o apontamento da música por Santo Agostinho, na perspectiva da purificação da alma pelo amor a Deus e ao próximo, das virtudes com que a alma se aperfeiçoa e das quatro virtudes cardeais[109] presentes na alma dos justos.[110]

Iniciamos com a perspectiva da purificação da alma, vinculada ao mandamento do amor,[111] que é fortemente retomado no contexto quaresmal, presente nos textos bíblicos[112] principalmente quando refletimos as características sobre o batismo que nos remete a filiação a Deus e, consequentemente, todos irmãos.[113] E, como tempo de reconciliação, o período quaresmal requer que “[…] consideramos a corrupção e a queda da alma, vejamos que ação Deus lhe ordena, afinal, a fim de que, levantada e purgada, ela voe de volta à quietude e volte a entrar no gozo do Senhor” (AGOSTINHO, 2021, p.265).

No diálogo do mestre Agostinho e seu discípulo, tanto quão difícil é vivenciar o que é sugerido no texto bíblico de amar o próximo, é difícil aplicar os números[114] em uma execução[115]. A saída de Agostinho para ter uma música que relacione o amor a Deus e o amor ao próximo, é primeiramente encontrar a beleza da suavidade do jugo divino,[116] depois será trabalhar com a ordem dos números temporais, evitando os prazeres que não se costuram com a ordem, que são os louvores aos homens e a alegria do prazer carnal.[117]

Nossa segunda possibilidade de amplitude musical para o tempo da quaresma é das virtudes que a alma se aperfeiçoa, que é um objetivo quaresmal que passa pelas práticas penitenciais que são estimuladas fortemente neste período.[118] Saindo de uma concepção mais corpórea, que é a relação entre indivíduos do amor comunitário, passamos as coisas incorpóreas. A sugestão passa a verificar e estar atento a temperança e a justiça.[119]

Nesta provocação, da perspectiva do uso mais amplo dos recursos do campo harmônico, falaremos sobre as quatro virtudes cardeais: prudência, temperança, fortaleza e justiça. O diálogo entre o mestre e o discípulo na obra de Agostinho, deixa claro a necessidade de dominar a natureza inferior, observando a relação corpo e alma, sem que a alma seja submissa ao corpo.[120] A solução é a aproximação com o Senhor e provar a sua suavidade[121], buscando a similitude com o sagrado.

Portanto, vemos em Agostinho que sujeita a uma única perspectiva de campo harmônico, forçar sempre o um intervalo específico e a um clichê harmônico, estaremos impossibilitados de passar dos números temporais para a amplitude e riqueza, de que a música possibilita para o culto.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes de expor minhas considerações, quero salientar que os setes passos anteriores culminam para este oitavo e último, como proposta eficaz e inicial para se preparar não apenas para a Quaresma, mas se procurar entender melhor o que celebramos. Chegamos a esse passo concluindo que é preciso diálogo. Toda ação, que não possibilita o diálogo, é um autoritarismo infundado e não cabe mais na Igreja Católica. É preciso ouvir o magistério Papal, episcopal, a Tradição e a Sagrada Escritura e, com toda essa escuta, iniciar uma reflexão.

Estamos bombardeados em redes sociais e grupos de mensagens com posicionamentos sem fundamento, com achismos e pré-conceitos. Será com leitura, estudo e reflexão que conseguiremos construir algo. Os que se fecharam a isso promoveram a discórdia e as desconstruções. A nossa vocação batismal está ligada às práticas quaresmais, à nossa vocação como criatura. Não basta apenas seguir os mandamentos. É preciso dar um passo a mais: “[…] vende tudo e depois segue-me” (BÍBLIA, 2001, Mateus 19. 16-30).

O convite feito por Jesus é caminhar para a Páscoa. É carregar a cruz até o calvário sim, mas antes de abraçar a cruz é preciso a decisão de sair de onde estou e tomar a decisão de ir ao encontro do próximo.[122] Que a prática quaresmal seja de tolerância ao irmão e ao diálogo, promovendo o bem que vence o mal.[123] E alegrar ao ver o outro crescer,[124] sem competições! Valorizando a diversidade para promover a unidade do corpo de Cristo.[125] Singularidade necessária de uma comunidade atuante em comunhão com a universidade da Igreja.[126]

 

  1. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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[1]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §11

[2]Ibidem, §17

[3]Ibidem, §19

[4]CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 1999, §23

[5]Ibidem, §38

[6]Ibidem, §43

[7]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §22 e §128.

[8]Primeira das quatro constituições promulgadas pelo Concílio Vaticano II. Trata-se especificamente da liturgia. Foi promulgada em 1963, pelo Papa Paulo VI.

[9]BOGAZ, 2014, p.5

[10]BÍBLIA, 2001, Isaías 29.13

[11] BOGAZ, 2014, p.7

[12]COMISSÃO EPISCOPAL PASTORAL PARA A LITURGIA et al, 2017, p.166

[13]ACIDIGITAL, 2022.

[14]BÍBLIA, 1 Coríntio 1. 10-17.

[15]Ibidem, 1 Coríntios 11. 1-19

[16]Ibidem, Tito 3.10-11

[17]Ibidem, 1 Coríntios 12. 24-31

[18]Ibidem, Mateus 12.25

[19]Ibidem, Lucas 11.16

[20]HELLER, 2003, p. 11.

[21]HASS, 2014, p. 69

[22]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §11

[23]WARREN, 2013, p.22. Para o pastor americano, é em Deus que o homem se encontra com sua identidade. Pensamento semelhante ao que se propõe o culto católico.

[24]RATZINGER, 2019, p.242. Em sua obra descreve a relação do domingo com a criação e a ressurreição e o oitavo dia como a restauração de tudo.

[25]BÍBLIA, 2001, Mateus 28.1

[26]Ibidem, Romanos 11.36

[27]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §106

[28]Ibidem, §108

[29]BÍBLIA, 2001, Colossenses 1.16

[30]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §5

[31]PIO XII, Papa, 1947, §15

[32]WARREN, 2013, p.76. A motivação do fiel no culto cristão é glorificar a Deus.

[33]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §102

[34]Ibidem, §108

[35]Ibidem, §109

[36]Ibidem §110

[37]BÍBLIA, 2001, Mateus 22.37-39

[38]FONSECA, 2018, p.35

[39]Ibidem, p.39

[40]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1965, §3

[41]Ibidem, §8

[42]Ibidem, §4

[43]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1965, §21 (b)

[44]WARREN, 2013, p.24.

[45]BOGAZ, 2014, p.43

[46]Ibidem, p.54

[47]BERGAMINI, 1994, p.267

[48]BÍBLIA, 2001, Mateus 4.1-11. Marcos 1. 12-15. Lucas 13. 1-9.

[49]Ibidem, Mateus 17.1-9. Marcos 9. 2-10. Lucas 9.28b-36

[50]BERGAMINI, 1994, p. 273

[51]Ibidem, p. 283

[52]BÍBLIA, 2001, 1 Coríntios 13.8

[53]Ibidem, João 4.5-42

[54]Ibidem, João 3.5

[55]JOÃO PAULO II, Papa. Catecismo da Igreja Católica. Edições Loyola: São Paulo. §1238, 1998.

[56]BÍBLIA, 2001, João 9. 1-41

[57]CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA §1216

[58]BÍBLIA, 2001, João 11. 1-45

[59]BERGAMINI, 1994, p.268

[60]BÍBLIA, 2001, 2 Coríntios 5.17

[61]Ibidem, Efésios 4.30

[62]CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA §1274

[63]BERGAMINI, 1994, p.273

[64]BÍBLIA, 2001, João 2.13-25. Texto celebrado no terceiro domingo do tempo da Quaresma do Ano B.

[65]Ibidem, João 12.20-33. Texto proclamado no quarto domingo da Quaresma do Ano B.

[66]Ibidem, João 12.20-33. Texto do quinto domingo da Quaresma do Ano B.

[67]Ibidem, Marcos 8.34

[68]BERGAMINI, 1994, p.280.

[69]PIO XII, 1947, §143

[70]BÍBLIA, 2001, Lucas 4. 1-13

[71]Ibidem, Lucas 13.1-9. Texto proclamado no terceiro domingo da Quaresma no calendário C da liturgia católica.

[72]Ibidem, Lucas 15.2-3. 11-32. Texto celebrado no quarto domingo da Quaresma do ano C.

[73]Ibidem, João 8.1-11. Texto do quinto domingo da Quaresma do ano C.

[74]BERGAMINI, 1994, p.280

[75]BÍBLIA, 2001, p. Lucas 21. 13-35.

[76]BENTO XVI, 2008, p.§3

[77]BÍBLIA, 2001, Efésios 4.16

[78]BERGAMINI, 1994, p.285

[79]BOSELLI, 2019, p.205

[80]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §7

[81]BERGAMINI, 1994, §285

[82]CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 1999, §4

[83]BERGAMINI p.287

[84]BERGAMINI, 1994, p. 288

[85]CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 2021a, p.87

[86]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §50

[87]Ibidem, §11

[88]Ibidem, §48

[89]BOGAZ, 2014, p.61

[90]CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 2021b, p.104

[91]MUSICAM SACRA, §29

[92]DOCUMENTOS SOBRE A MÚSICA LITÚRGICA, 2017, p.165-166.

[93]BOGAZ, 2014, p.60-61

[94]DOCUMENTOS SOBRE A MÚSICA LITURGICA, 2017, p.188

[95]JOÃO PAULO II, 2003, §10

[96]BOGAZ, 2014, p.62-70

[97]CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 2021, §313

[98]WARREN, 2013, p.76. O pastor americano contextualiza a importância de entender a pluralidade da linguagem musical que está a serviço da comunicação e da expressão do indivíduo para com o sagrado e pode muito bem ser considerada nos tempos atuais, com atualização necessária ao presente.

[99]Livro da Bíblia que contém cânticos poéticos que retratam experiência de fé. A palavra salmos, de origem do verbo psallo que significa, pulsar as cordas.

[100]A numeração dentro do parênteses é a numeração da Septuaginta, que é a tradução mais antiga do grego, e fora do parênteses a tradução hebraica, que é a numeração escolhida pela tradução da Bíblia utilizada como referência bibliográfica neste artigo.

[101]BÍBLIA, 2001, Salmos 113.3

[102]BÍBLIA, 2001, Números 10. 1-10

[103]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1964, §9

[104]CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, 1999, §263. A compreensão do contexto é muito importante. Qualquer apontamento fora do contexto é um risco ao julgamento errôneo, alimentado por pré-conceitos.

[105]HELLER, 2003, p.11

[106]LAMBERT, 2016, p.3

[107] DEL PICCHIA, 2013, p.74

[108]COMISSÃO EPISCOPAL PASTORAL PARA A LITURGIA et al, 2017, p. 171

[109]BÍBLIA, 2001, Sabedoria 8.7

[110]AGOSTINHO, 2021, p. 265-276

[111]BíBLIA, 2001, João 13,34

[112]AGOSTINHO, 2021, p.265

[113]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §109a

[114]AGOSTINHO, 2021, p27. Para Agostinho, a teoria musical é organizada em números. Logo, fazer música é utilizar números e suas relações.

[115]Ibidem, p.265-266.

[116]BÍBLIA, 2001, Mateus 11.30

[117]AGOSTINHO, 2021, p.265-271

[118]CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1963, §110.

[119]AGOSTINHO, 2021, p.271-273

[120]Ibidem, p.274.

[121]BÍBLIA, 2001, Salmos 33.9

[122]LAMBERT, p. 3, 2016

[123]BÍBLIA, 2001, Romanos 12.21

[124]FRANCISCO, Papa, 2021.

[125]BÍBLIA, 2001, Efésios 4. 11-32

[126]BOGAZ, 2014, p.63

5 Comments

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    Maria do Socorro
    Posted 24/02/2022 at 15:11

    Esse brilhante artigo, fruto de muito estudo e pesquisa, nos aponta uma visão inovadora acerca de uma perspectiva, que instiga o leitor a pensar sobre sua ação pastoral, em seguida há uma crítica argumentativa sobre como as pessoas vêm a quaresma e suas mais variadas realidades, por fim por meio de um embasamento bibliográfico com a luz da palavra , são apontadas diretrizes que acredito que nunca foram vistas por nenhum de nós, acerca do que se celebra e por que se celebra. Tudo isso apontando caminhos..
    E como conclusão deixa claro a importância do se celebrar… Nos apresentando uma nova forma visualizar a quaresma sem deixar de lado, os pilares que sustentam esse tempo, no qual refletimos não apenas um determinado tema de cunho social que nos é proposto pela campanha da fraternidade, mais que acima de tudo, nos direciona a estar atentos, e usar a palavra de Deus como principal norteador.. Gratidão ao Anderson e aos idealizadores do caminho, por nos fazerem refletir, além de apontar novos direcionamentos para que possamos bem celebrar e bem vivenciar esse tempo..

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    Cesar Augusto
    Posted 19/02/2022 at 09:22

    Gostaria de parabenizar e agradecer ao Anderson, pelo excelete trabalho realizado nesse artigo. Com certeza, um material de grande qualidade que fará com que o leitor mergulhe dentro do tema da Quaresma sob uma nova perspectiva.
    Uma leitura de fácil compreensão, mas que possui uma profundidade e esclarecimentos importantíssimos em relação ao assunto.
    Que Deus possa nos motivar e orientar em no nosso trabalho na Liturgia fazendo com que busquemos sempre o diálogo construtivo com os nossos irmãos. Aprimorar nossos conhecimentos de forma consciente , seja um objetivo constante em nossa caminhada.

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    Aline Bonato
    Posted 16/02/2022 at 17:56

    Excelente reflexão. Texto com muitas referências, nos coloca frente a um contexto que precisa ser repensado para ser melhor vivido.
    Esta pesquisa poderá contribuir com novos passos aos documentos pastorais, pois nos instiga a questionar como estamos utilizando a liturgia.
    Que a partir desta colocação, possamos reverberar de forma consciente, toda ação liturgica que se da também por meio da música.

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    Paulo Ayroza
    Posted 16/02/2022 at 17:21

    Parabéns!!! Realmente um texto de conteúdo profundo mas uma leitura suave. Recomendo a todos que leiam, nossos Professores brilharam na elaboração de material pedagógico. Vale cada segundo da leitura, parecia que estava ouvindo Santo Agostinho falando em alguns momentos, tanto pelo conteúdo, mas também pela bela forma de escrever. Paulo Ayroza Ribeiro

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    Juliana
    Posted 16/02/2022 at 15:37

    Essa belíssima e enriquecidora pesquisa provoca nosso relacionamento e vida pastoral.
    Quantas vezes e por quanto tempo atuamos sem, de fato, conhecer as instruções, sem questionar, sem zelo e sem amor ao próximo…
    Quantas vezes discriminados musiscistas por questões sem fundamento.
    Quantos de nossos irmãos se afastaram por terem sido impedidos de tocar?
    Que esse belíssimo trabalho seja um alento e, principalmente, instigue e provoque uma mudança e adequação gradativa de hábitos em nossas comunidades.

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